Um sonho que sonhei.
A primeira informação que me veio em mente: Ele era bem mais jovem e eu já sabia que coisa boa não ia resultar, embora minha vaidade preferisse ignorar. Que mulher de meia idade não se sentiria bem com elogios de um rapaz!
Estávamos num encontro entre amigos, eu e meu marido. Conversávamos a vontade, ríamos, bebíamos como se não houvesse amanhã, mas cansei e me separei do grupo por instantes, eu precisava tomar um pouco de ar, me refrescar. Nem perceberam minha ausência, afinal eu não estava realmente interessada naquela monótona conversa sobre maquinários usados pela NASA – e pensar que eu mesma começara o assunto e já me arrependera.
Me lembro que estávamos num apartamento bem alto, cuja paisagem noturna da cidade era de tirar o fôlego. Jovem senhora, naquela aventura pelo menos, eu estava com tudo em dia, meu corpo exibia voluptuosas formas que se insinuavam. Me inclinei para olhar o jardim lá de baixo, mas pouco se via, a iluminação daquele trecho não era muito favorável. Tirei um sobretudo que vestia, pois eu precisava sentir o vento na pele. Neste momento, além de ser a personagem da vez eu também me assistia, era como num filme com cenas em câmera lenta, quase que para causar um impacto dramático e sensual.
Ato 1
Enquanto sozinha, nada me vinha a mente, estava realmente descansando o corpo e os pensamentos, mas então um rapaz apareceu e fez questão de ser notado. O casaco que eu ainda tirava estava pendurado em um dos meus braços e ele gentilmente me ajudou a retirá-lo. A atração foi instantânea, minhas pernas amoleceram e senti uma certa tontura. Ele rapidamente colocou seus braços em volta do meu corpo, exatamente como fazem os galãs nos filmes românticos, quando a mocinha está prestes a desmaiar.
Me recompus imediatamente, parecia brincadeira do destino, mas desta vez eu já estava vacinada e sabia que se eu vacilasse, seria traída mais uma vez pelos desejos que sempre insistiam em não serem secretos. Voltei à sala, precisava me distanciar daquele jovem que nem conhecia. Os outros continuavam a falar sobre assuntos bem chatos e na hora pensei: Caramba, onde está a diversão prometida?
Sempre fui exigente, mas talvez porque eu não seja como todas as pessoas e goste de desafiar meus instintos, me sentir viva e disponível ou não. Prazeres de toda espécie sempre são muito bem aceitos, pelo menos por mim. Alguém da cozinha chamou o garoto e então eu percebi que era amigo de um dos nossos filhos, não sei de qual. Devia ter lá pelos seus 30 anos. Não tão jovem quanto parecia, mas para alguém como eu, na beira precipício, era simplesmente um respiro a mais.
Ato 2
O cenário mudou, menos o galã da vez. Agora eu estava numa viela meio escura e ele tentava me agarrar.
- Você sabe que poderia ser meu filho?
- Eu ia adorar, assim poderia deitar minha cabeça em seu peito, entre esses seus seios tão convidativos.
- Você é atrevido não! Porque acha que eu estou interessada?
- Não sei se está, mas eu estou e queria que você ao menos provasse um pouco desse meu interesse – acredite que é enorme.
Aquelas palavras tiveram uma fálica entrada em mim. Maldito convite de irmos para a casa daqueles amigos, mas nesta altura já nem me lembrava mais deles. Não posso me orgulhar da minha resistência, pois minha carne é mesmo fraca. Quando percebi, estava aos beijos e abraços com alguém que nem sabia o nome.
Me jogou na parede e me chamou de lagartixa!
Mentira, mas bem que eu ia gostar.
Lambia meu corpo, arranhando minha pele. Me dava mordidas gostosas e eu provava de um prazer absurdo, resgatando o danado do libido que havia tirado férias, parecendo em Madagascar. Parou por aí.
Lado a lado andávamos pela rua totalmente despreocupados, mas fomos vistos por uma senhora que sabíamos ser alcoviteira, adorava cuidar da vida alheira. Para disfarçar, fui apresentada à ela como amiga da mãe dele, dito que eu estava perdida, precisando voltar para casa. Imediatamente fui colocada numa vã cheia de outras senhoras. Soube no trajeto que algumas seguiriam para uma igreja, outras para o clube do livro... Socorram me em Marrocos. Olhei a minha volta e achei tudo muito estranho, torcendo para que não perguntassem nada sobre mim, porque na verdade nem eu saberia o que dizer.
Ato3
Desci num determinado ponto e fiquei no meio da rua, sem saber o que fazer. Fui então atraída para dentro de um corredor muito bem iluminado. Pessoas andavam de um lado para o outro. Haviam mulheres lindas e muito bem vestidas. Acontecia um desfile de modas e as jovens estavam sendo preparadas para a apresentação, que seria em alguns instantes. Eu estava fascinada com o mundo da moda, eram vestidos e joias de grife. Exibiam sandálias maravilhosas, haviam muitas plumas e brilhos.
Alguém no fundo gritava:
- Onde está Mary Queen? Cadê aquela louca?
Não sei como, mas eu a conhecia, era uma drag famosa que faria a abertura do desfile, sem ela não poderia acontecer...
Via um corre corre de um lado para o outro e novamente fui puxada, desta vez para dentro de uma sala. Nesta altura do campeonato eu já estava me sentindo como bala de coco no processo de fabricação. Mas lá estava o avantajado rapaz, ainda com sua sede por sexo. Eu dizia à ele que haviam muitas jovens disponíveis, mas ele não queria nenhuma delas. Achei até que tinha feito alguma aposta, não era possível que entre tantas, eu continuava sendo escolhida. Mais aplausos para minha vaidade.
Desta vez fizemos sexo completo e foi bom demais. Estávamos escondidos num camarim, atrás de um biombo. Mas bem na hora de um orgasmo nós ouvimos na porta:
- Mary está aqui, ela chegou! Podem apagar as luzes do palco, solta o som! - Mary, pelo amor de Deus, larga o filé e corre para a passarela. Haviam me confundido com a bicha doida!!!
Soube que receberia um altíssimo cachê, então não questionei, rimos e eu corri para me enfiar numa linda sandália número44. O vestido pesava muito, um absurdo.
O danado do menino ainda me incentivava:
- Mesmo que se sinta insegura, sei que você dá conta. Aquelas magrelas do desfile jamais conseguiriam vestir algo tão glamoroso, com todos esses diamantes. Vai lá e arrasa, sei que consegue sem esforço! Ele foi feito para você, com este corpão delicioso, com essas pernas bem torneadas.
Sinceramente estou pensando em adotar esse cara.
Ato4
Não vi o desfile e nem o dinheiro. Chatinho o escritor dessa história, mas acho que ele considerou que o prazer da vez deveria ser apenas o sexual. Até em sonho eu sou dura!
Andava por departamentos de uma loja, parecia fazer parte do cenário anterior, mas eu procurava a saída. Sentia que não deveria estar ali, e então dei de cara com o marido, aquele que tinha ficado de conversa mole com o pessoal do apartamento. Furioso, quis saber por onde eu havia estado. Antes de dizer qualquer coisa, percebi que ele estava muito bonito, elegante. Vestia um terno branco com camisa vermelha e usava até gravata e então eu o questionei:
- Onde você vai com essa roupa? Está muito bem assim.
- Não faço a menos ideia, me diz você onde é que eu devo ir, o sonho é seu!
- Sonho? Eu estou sonhando? Não, para. Não quero saber. E pensar que tanto esforço para nada!
Larguei ele lá falando sozinho, inclusive porque logo foi assediado por algumas moças que também o elogiavam. Estaria bem acompanhado.
Ato5
Não faço a menor ideia para onde foram todas as pessoas e todos os cenários anteriores, mas agora eu estava numa corrida, no meio de um monte de crianças. Sumiram todos os personagens anteriores, sumiu a sensualidade.
Eu engatinhava com um carrinho feito de gelatina, segurando em uma das mãos. Sim, chama a ambulância para mim! A proposta era andar por um longo muro que beirava um lago. Deveria chegar até a outra ponta sem cair. Não sei porque me deixaram ficar entre elas, mas sei que participei da corrida, até que equilibrada.
Eu estava determinada em vencer, inclusive porque por eu ser adulta, passava facilmente por cima das crianças sem ao menos tocá-las e assim pude alcançar a linha de chegada. O prêmio era comer o carrinho. Estou achando que este escritor está tirando uma com a minha cara!
E assim terminou mais uma noite de aventura. Não fez muito sentido, nada vai ter um impacto real na minha vida, mas de qualquer jeito acordei com um sentimento de felicidade e saciada. Porque será heim?! Isso não é sobre gelatina.